Todo o meu corpo dói, mas ao mesmo tempo me
encontro extremamente feliz.
No último dia 27 realizei um sonho, que foi
completar meu primeiro Ironman. Para quem não conhece, consiste em uma prova de
3.800m de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida. Tudo realizado nesta
sequência e em um mesmo dia.
Por que fazer isso? Gosto do esporte, mas para que
tanto sofrimento? Talvez teimosia, talvez por querer saborear do gosto da
conquista de simplesmente cruzar a linha da chegada.
Para aqueles que assistem, a prova leva apenas um
dia. Mas para aqueles que se preparam para esse desafio, a luta começa um ano
antes da prova, momento quando é feita a inscrição. O dia a dia da preparação é
bastante complicado, incluindo além de longos treinos diários, uma alimentação
regrada e um preparo mental gigante.
A preparação física fiz através dos treinamentos
passados pela minha treinadora, Mariana Borges. Foram muitos e longos treinos.
Treinos em dias de chuva, treinos em dias de sol escaldante, treinos de natação
em manhãs e noites frias, treinos no rolo (equipamento que simula o ciclismo na
rua) assistindo a novelas, treinos solitários, treinos com calos nos pés,
treinos na esteira da academia, etc.
Para a parte da nutrição, fiz um acompanhamento com
o nutricionista Braian Cordeiro, seguindo uma dieta bem regrada.
Já a preparação mental fiz imaginando a prova, a
linha de chegada, assistindo a vídeos de Ironman e lendo relatos de atletas
mais experientes.
Todos os relatos que li foram muito importantes. E
quase todos traziam um famoso chavão: “um filme passou em minha cabeça”, diziam
os atletas sobre as reflexões realizadas durante a longa prova.
Com meu modesto tempo na prova, muito distante das
marcas dos atletas de elite ou ainda dos grandes amadores, talvez eu esteja
muito mais para um “homem de lata” do que para um “homem de ferro”. Pensei
nisso durante a prova, sem que isso fosse uma desmotivação. Sei das minhas
limitações, mas também sabia que podia ir até o final.
Lembrei do homem de lata do Mágico de Oz, que ao
encontrar a menina Dorothy partiu com ela e outros personagens atrás de um
coração para si.
Lembrei da última vez que chorei, há sete anos
atrás, quando descobri que teria que enfrentar o câncer pela terceira vez.
De maneira inevitável, agora eu era o dono do velho
chavão. Um filme se passava na minha cabeça enquanto corria solitário e com
câimbras a maratona do Ironman. Faltavam apenas 36km.
Pensei em desistir, mas lembrei de que a Thaís e
minha mãe estavam na linha de chegada me esperando, e eu não podia frustrá-las.
Minha mãe, aliás, que acordou às 4h da manhã para
me acompanhar na prova. Antes da largada ainda comentamos “acho que tu és a
única mãe que veio neste horário”. Ela que esteve comigo nas outras grandes conquistas
da minha vida, sempre me apoiando, com a certeza que daria tudo certo. Devo
todas essas conquistas a ela.
Para a Thaís não tenho palavras para agradecer. Ela
que me acompanha no dia a dia, conviveu com minha ausência e ansiedades. Ela
que acordou cedo para ir comigo às provas que serviram de preparação para o
Ironman. Aceitou abrir mão de irmos a cinemas e bares. Suportou a rotina de
dormir e acordar cedo, de ter uma alimentação regrada. Tudo isso porque sabia
que essa conquista era importante para mim. Tenho muito orgulho de ti, sou
muito grato pela vida ter te colocado ao meu lado, e te amo demais. Não vou
dividir essa medalha contigo, pois ela é inteira tua!
Pensando nas duas pessoas que mais amo em minha
vida, imaginando-as esperando na linha de chegada, o pensamento de desistir foi
embora.
Eu sabia que ia chorar ao vê-las e cruzar a linha
de chegada. Pensei que no final o homem de lata ganha o coração do Mágico de
Oz, e aí podia chorar.
Ao entrar naquele corredor de gente, me aproximando
da chegada, vi pessoas gritando, amigos e desconhecidos, me parabenizando.
Procurei pela Thaís e minha mãe. Escuto uma voz me chamando na arquibancada,
segundos antes de cruzar a linha final. Olho e vejo a Thaís e minha mãe.
Dessa vez o homem de lata não chorou, abriu um
sorriso com uma felicidade indescritível.
Embora todos usem o mesmo chavão, entendi que as
histórias são diferentes, cada um tem o seu próprio filme.
E eu, ao cruzar a linha de chegada, escrevia mais
uma página da minha história. Estava gravada mais uma cena do meu filme. Feliz
demais por ter conquistado esse desafio, e ainda mais feliz por causa dos
personagens principais da minha história.
Thaís e mãe, obrigado por tudo, eu amo vocês!
Henrique
7 comentários:
Paulo, sem palavras!! Emocionante...
Parabéns, tu é um Ironman!!!
Forte Abraço
Guilherme....
Que lindo relato. Super emocionante!!! Parabéns mesmo!!! Eu admiro muito tri atletas... e quem sabe um dia eu chegue lá tb. Um abraço. Sucesso!!
Impressionante narrativa. Meus parabéns! É inevitável expressar minha admiração por tamanha dedicação, disciplina e força de vontade que você apresentou.
Parabéns mais uma vez bixo!
Um abraço!
Guilherme Preto,
Muito obrigado pelas palavras!
O apoio que o casal 21 me deu na prova foi fundamental para eu chegar até o final!
Um grande abraço e obrigado pela companhia e amizada!
Pri!
Muito obrigado pela visita e pelas palavras!
Acredito que nossos limites somos nós mesmos que inventamos. Ou seja, para chegarmos a algum lugar, depende apenas da gente.
O primeiro passo é o mais difícil. Mas esse negócio de triathlon vicia!
Espero em breve ler no teu blog um relato sobre a tua primeira prova!!!
Grande João Romão!
Muito obrigado!
As coisas ficam muito mais fáceis quando fazemos aquilo que amamos.
Descobri essa paixão por este esporte, fiz grandes amigos, ultrapassei os meus limites.
Incrível como aprendo coisas novas a cada dia... a começar pelo autoconhecimento!
Um grande abraço!!!
Parabéns pela conquista, Ironman!!! Lembro das tantas vezes que encontrava a Thais e ela falava que você estava treinando, foi muita dedicação. Parabéns a ambos e muitas felicidades! Forte Abraço
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