29 de mai. de 2012

Homem de Lata

Todo o meu corpo dói, mas ao mesmo tempo me encontro extremamente feliz.

No último dia 27 realizei um sonho, que foi completar meu primeiro Ironman. Para quem não conhece, consiste em uma prova de 3.800m de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida. Tudo realizado nesta sequência e em um mesmo dia.

Por que fazer isso? Gosto do esporte, mas para que tanto sofrimento? Talvez teimosia, talvez por querer saborear do gosto da conquista de simplesmente cruzar a linha da chegada.

Para aqueles que assistem, a prova leva apenas um dia. Mas para aqueles que se preparam para esse desafio, a luta começa um ano antes da prova, momento quando é feita a inscrição. O dia a dia da preparação é bastante complicado, incluindo além de longos treinos diários, uma alimentação regrada e um preparo mental gigante.

A preparação física fiz através dos treinamentos passados pela minha treinadora, Mariana Borges. Foram muitos e longos treinos. Treinos em dias de chuva, treinos em dias de sol escaldante, treinos de natação em manhãs e noites frias, treinos no rolo (equipamento que simula o ciclismo na rua) assistindo a novelas, treinos solitários, treinos com calos nos pés, treinos na esteira da academia, etc.

Para a parte da nutrição, fiz um acompanhamento com o nutricionista Braian Cordeiro, seguindo uma dieta bem regrada.

Já a preparação mental fiz imaginando a prova, a linha de chegada, assistindo a vídeos de Ironman e lendo relatos de atletas mais experientes.

Todos os relatos que li foram muito importantes. E quase todos traziam um famoso chavão: “um filme passou em minha cabeça”, diziam os atletas sobre as reflexões realizadas durante a longa prova.

Com meu modesto tempo na prova, muito distante das marcas dos atletas de elite ou ainda dos grandes amadores, talvez eu esteja muito mais para um “homem de lata” do que para um “homem de ferro”. Pensei nisso durante a prova, sem que isso fosse uma desmotivação. Sei das minhas limitações, mas também sabia que podia ir até o final.

Lembrei do homem de lata do Mágico de Oz, que ao encontrar a menina Dorothy partiu com ela e outros personagens atrás de um coração para si.

Lembrei da última vez que chorei, há sete anos atrás, quando descobri que teria que enfrentar o câncer pela terceira vez.

De maneira inevitável, agora eu era o dono do velho chavão. Um filme se passava na minha cabeça enquanto corria solitário e com câimbras a maratona do Ironman. Faltavam apenas 36km.

Pensei em desistir, mas lembrei de que a Thaís e minha mãe estavam na linha de chegada me esperando, e eu não podia frustrá-las.

Minha mãe, aliás, que acordou às 4h da manhã para me acompanhar na prova. Antes da largada ainda comentamos “acho que tu és a única mãe que veio neste horário”. Ela que esteve comigo nas outras grandes conquistas da minha vida, sempre me apoiando, com a certeza que daria tudo certo. Devo todas essas conquistas a ela.

Para a Thaís não tenho palavras para agradecer. Ela que me acompanha no dia a dia, conviveu com minha ausência e ansiedades. Ela que acordou cedo para ir comigo às provas que serviram de preparação para o Ironman. Aceitou abrir mão de irmos a cinemas e bares. Suportou a rotina de dormir e acordar cedo, de ter uma alimentação regrada. Tudo isso porque sabia que essa conquista era importante para mim. Tenho muito orgulho de ti, sou muito grato pela vida ter te colocado ao meu lado, e te amo demais. Não vou dividir essa medalha contigo, pois ela é inteira tua!

Pensando nas duas pessoas que mais amo em minha vida, imaginando-as esperando na linha de chegada, o pensamento de desistir foi embora.

Eu sabia que ia chorar ao vê-las e cruzar a linha de chegada. Pensei que no final o homem de lata ganha o coração do Mágico de Oz, e aí podia chorar.

Ao entrar naquele corredor de gente, me aproximando da chegada, vi pessoas gritando, amigos e desconhecidos, me parabenizando. Procurei pela Thaís e minha mãe. Escuto uma voz me chamando na arquibancada, segundos antes de cruzar a linha final. Olho e vejo a Thaís e minha mãe.

Dessa vez o homem de lata não chorou, abriu um sorriso com uma felicidade indescritível.

Embora todos usem o mesmo chavão, entendi que as histórias são diferentes, cada um tem o seu próprio filme.

E eu, ao cruzar a linha de chegada, escrevia mais uma página da minha história. Estava gravada mais uma cena do meu filme. Feliz demais por ter conquistado esse desafio, e ainda mais feliz por causa dos personagens principais da minha história.

Thaís e mãe, obrigado por tudo, eu amo vocês!

Henrique

7 comentários:

Unknown disse...

Paulo, sem palavras!! Emocionante...

Parabéns, tu é um Ironman!!!

Forte Abraço

Guilherme....

Pri disse...

Que lindo relato. Super emocionante!!! Parabéns mesmo!!! Eu admiro muito tri atletas... e quem sabe um dia eu chegue lá tb. Um abraço. Sucesso!!

João Romão disse...

Impressionante narrativa. Meus parabéns! É inevitável expressar minha admiração por tamanha dedicação, disciplina e força de vontade que você apresentou.

Parabéns mais uma vez bixo!

Um abraço!

Paulo Henrique disse...

Guilherme Preto,

Muito obrigado pelas palavras!

O apoio que o casal 21 me deu na prova foi fundamental para eu chegar até o final!

Um grande abraço e obrigado pela companhia e amizada!

Paulo Henrique disse...

Pri!

Muito obrigado pela visita e pelas palavras!

Acredito que nossos limites somos nós mesmos que inventamos. Ou seja, para chegarmos a algum lugar, depende apenas da gente.

O primeiro passo é o mais difícil. Mas esse negócio de triathlon vicia!

Espero em breve ler no teu blog um relato sobre a tua primeira prova!!!

Paulo Henrique disse...

Grande João Romão!

Muito obrigado!

As coisas ficam muito mais fáceis quando fazemos aquilo que amamos.

Descobri essa paixão por este esporte, fiz grandes amigos, ultrapassei os meus limites.
Incrível como aprendo coisas novas a cada dia... a começar pelo autoconhecimento!

Um grande abraço!!!

Anônimo disse...

Parabéns pela conquista, Ironman!!! Lembro das tantas vezes que encontrava a Thais e ela falava que você estava treinando, foi muita dedicação. Parabéns a ambos e muitas felicidades! Forte Abraço