1 de nov. de 2013

A coleção da minha irmã



Desde criança, minha irmã guarda em seu quarto, bem escondida, uma caixinha.

Por várias vezes a vi mexendo naquela caixa. Às vezes parecia estar guardando alguma coisa. Outras vezes a vi retirando algo de lá. Volta e meia estava a mexer naquela caixa misteriosa, vasculhando-a e sorrindo.

Um dia resolvi perguntar:

- Minha irmã, o que guardas nessa caixinha com tanto cuidado?

Ela a abriu e começou a me mostrar. Em um varalzinho, foi pendurando letras e palavras, que juntas tinham formato de poesias.

- Aqui dentro guardo os meus sonhos.

Eram muitos e muitos sonhos. Tão bonitos, alguns eram vermelhos, outros coloridos. Alguns eram grandes, outros pequenos.

Alguns tão puros eram guardados desde a sua infância. Mas não estavam amarelados. Pelo contrário, com muito carinho ela os preservava com todo o cuidado.

- Mas como podem caber tantos sonhos nesta caixinha tão pequenina, minha irmã?

- Dentro desta caixinha cabem quantos sonhos a gente quiser. E também do tamanho que a gente quiser.

Dia a dia, guardo novos sonhos aqui dentro.

Alguns tão importantes, embora às vezes esquecidos, continuam bem guardados. De vez em quando, vasculhando a caixinha, lembro-me deles ao encontrá-los lá no fundo.

E volta e meia retiro uns aqui de dentro. Alguns eu jogo fora, aqueles que não me encantam mais.

Outros não mais sonhos são chamados, por tê-los realizado. O meu sonho mais bonito, por exemplo, está brincando no jardim.

12 de jul. de 2013

A idade dos melhores maratonistas da História

 
Volta e meia escuto por aí que atletas mais “experientes” se saem melhor na prática de esportes de resistência. Já os mais novos são mais fortes em competições de “explosão”.

De fato temos vários exemplos de atletas mais velhos com tempos arrasadores em competições de Ironman, fazendo morrer de inveja seus rivais garotões ou até o seu “eu” de anos atrás.

Na verdade isso não se trata de uma estatística, apenas de algumas observações que já fiz. Tampouco sou professor de Educação Física para querer entender ou explicar alguma coisa. Sou só um atleta amador curioso e nada mais!

Mas e na maratona? Como será que é? Será que os melhores corredores são mais velhos?

Movido por esta curiosidade resolvi pesquisar a idade dos atletas que estabeleceram os melhores tempos da História na Maratona Masculina.

Pesquisei os 355 melhores tempos da História, sendo que não consegui a idade de dois atletas.

Importante ressaltar que essa estatística pode englobar o mesmo atleta várias vezes. Por exemplo, se o atleta “A” obteve dois tempos entre os 355 melhores da História quando tinha 28 anos, ele vai contribuir duas vezes para este grupo. E se no ano seguinte, com 29 anos, ele marcou outra marca entre as 355 melhores, seu nome também vai contribuir para o grupo de 29 anos. Ou seja, este mesmo atleta apareceria 3 vezes na lista (2 vezes com 28 anos e 1 vez com 29 anos).

Qual o problema disso? Se tivermos um grande talento, ele pode contribuir para diversas idades diferentes, sendo que o responsável parece ser seu talento e não, necessariamente, sua idade.

De qualquer maneira, o gráfico apresenta uma tendência interessante.








 
 


Algumas observações:

•    A idade de 26 anos foi a que mais apareceu entre os 355 melhores tempos (40 vezes, ou 11,4%);
•    O gráfico mostra, nitidamente, que entre os 355 melhores tempos, a faixa de idade que mais aparece é 25 a 28 anos;
•    Apenas 2 tempos da lista foram obtidos com 18 anos (idade mais baixa);
•    Apenas 1 tempo da lista foi obtido com 38 anos (idade mais alta).

Outras observações:

•    O recorde mundial foi obtido pelo queniano Patrick Makau Musyoky, em 2011, quando tinha 26 anos (tempo de 2h03min38s);
•    O segundo da lista é o também queniano Wilson Kipsang Kiprotich, com o tempo de 2h03min42s, estabelecido em 2011, quando tinha 29 anos;
•    O terceiro da lista é o etíope Haile Gebrselassie, com o tempo de 2h03min59s, estabelecido em 2008 quando tinha 35 anos de idade.

Claro que estamos falando de altíssimo nível do esporte mundial, os melhores da História.

Para nós, meros mortais, continuo com a mesmo opinião de sempre: nunca é tarde para começar e buscar um estilo de vida mais saudável e mais alegre.

O esporte nos proporciona muito mais que a manutenção da forma física. Praticando esportes fazemos amigos e somos mais felizes. É só dar o primeiro passo para a mudança de vida.

10 de jul. de 2013

Grandes momentos do Esporte: dois detalhes da Maratona de Berlim 2003

Muito conhecido no Brasil por vencer 5 vezes a tradicional corrida de São Silvestre (1995, 1996, 1998, 1999 e 2000), o queniano Paul Tergat protagonizou junto a seu compatriota Sammy Kipchoge Korir um grande momento do esporte na Maratona de Berlim de 2003.

Em uma corrida muito emocionante, correndo lado a lado, os dois cruzaram praticamente juntos a linha de chegada, com uma diferença de apenas um segundo.

Paul Tergat venceu a prova com o tempo de 2h04min55s. Com um detalhe, ou melhor, dois detalhes:

Ambos batiam, naquela ocasião, o recorde mundial, que pertencia ao marroquino, naturalizado americano, Khalid Khannouchi (2h05min38s, Londres, 2002).

O recorde de Paul Tergat seria quebrado apenas em 2007, também em Berlim, pelo etíope Haile Gebrselassie.


5 de jul. de 2013

O grande ensinamento dos esportes Endurance



O que explicaria o fato de dois irmãos gêmeos, tão idênticos, criados juntos, terem personalidades tão diferentes?

Minha teoria é bem simples: as pessoas são formadas pelas experiências que vivem ao longo de suas vidas. Assim é formada a personalidade e o caráter de cada ser humano.

No caso de irmãos gêmeos, ainda que criados na mesma casa, pelos mesmos pais, ainda que tenham estudado na mesma escola e até tenham tido os mesmos amigos, as experiências que vivenciaram foram diferentes.

Não se trata exatamente de “vivenciar uma experiência diferente”, mas sim “vivenciar diferente uma experiência”. Ou seja, não significa estar presente em um momento exclusivo, significa enxergar sob uma ótica diferente aquela experiência específica.

E neste processo das experiências vividas no dia a dia, vai sendo construído cada ser humano, assim como uma casa, onde são assentados os tijolos até se chegar ao acabamento. E da mesma forma, cada pessoa pode se transformar em uma casa bonita, com um jardim bem cuidado e um acabamento caprichado ou então em uma casa escura e mal cuidada, com as paredes desaprumadas. Não falo aqui de aparências, mas sim do caráter de cada um.

Outro dia conversava com meu amigo Renan Leites sobre os “aprendizados” que temos praticando esportes Endurance (de resistência).

Seria muita burrice minha querer generalizar isso. Embora estejamos todos fazendo as mesmas coisas, nadando, pedalando e correndo, enxergamos por óticas diferentes tudo que vivemos. Encaramos de formas particulares o treino do dia a dia, as conquistas, as frustrações e a troca de experiências com outros atletas.

Muito antes de praticar esportes de Endurance, eu já enxergava os atletas com muita admiração. Não precisamos ser um maratonista ou um triatleta para saber da dedicação e esforço que esses esportes demandam. Para mim, apenas uma palavra explica tanto “sacrifício”: amor.

E junto a isso, sempre enxerguei outra coisa em comum entre aqueles a quem admiro: a humildade.

É natural termos referências, e penso que a palavra humildade é essencial para um grande ídolo. Para mim, quando um grande ídolo perde a humildade, deixa um pouco de ser um grande ídolo.

Tenho uma grande referência que é o maratonista Marilson Gomes dos Santos. Bi-campeão da Maratona de Nova Iorque (primeiro sul americano a vencer a prova), detentor do tempo de 2h06min34s na maratona de Londres 2011 (quando era o único atleta não africano top 10 do ranking mundial), uma das melhores marcas da História, entre tantas outras conquistas. Marilson é a humildade em pessoa.

É importante ressaltar que ser humilde não significa não se orgulhar de suas marcas ou de não querer melhorá-las. Fosse assim, Marilson não teria saído de sua infância humilde na Ceilândia para conquistar o mundo. E nessa história, vivendo tantas experiências e conquistas, ele sempre seguiu humilde.


Felizmente estou cercado de amigos no esporte, assim como meus treinadores, que me ensinam todos os dias como é importante ter humildade e praticar o esporte por amor. Não é à toa que eles também são meus ídolos.

Para mim, o grande ensinamento dos esportes Endurance, e que pode ser extrapolado para todos os “campos” de nossa vida, está bem claro: ter humildade e fazer tudo com amor.

Aliás, ao ser humilde, uma pessoa reconhece que pode melhorar, e tendo esta consciência, pode trabalhar para isso. Sem dúvida algo que vale para tudo na vida!

E para você, qual o grande ensinamento daquilo que pratica?

31 de mai. de 2013

IRONMAN 2013: o meu muito obrigado


Às vésperas do Ironman 2013, fizemos um encontro de nossa equipe (TIME) para uma grande confraternização.

Foi um momento muito especial, onde pudemos conversar com os amigos que fizemos, e assistir a um vídeo surpresa com o depoimento das famílias dos atletas que iriam fazer a prova.

Chorei com o relato da minha mãe, falando que o que ela enxergava na minha infância como “teimosia”, na verdade era “persistência”. Chorei ao ver minha irmã me chamando de herói, lembrando de batalhas que já venci no passado. Chorei ao ver a Thaís, que sofre com minha ausência no dia a dia de treinos, falando que estaria sempre ao meu lado, e que se o Ironman veio para ficar na nossa vida, que assim seja.

Vivemos nosso dia a dia praticando ações que para nós são normais. E como é bom perceber que, sendo assim natural, somos vistos com admiração. Um herói frágil e cheio de defeitos. Mas um herói para aquelas pessoas que mais importam: aquelas que mais amamos.

E essas pessoas, as que mais amo, estavam lá para me ver, pela segunda vez, completar o Ironman.

Uma “experiência espiritual”, como disse meu amigo Valmor. Ao mesmo tempo em vamos no nosso limite, estamos extremamente felizes por estarmos fazendo aquilo que amamos, cercados daquelas pessoas que mais amamos: nossa família e nossos amigos.

Um dia inteiro para refletir. Um dia inteiro sozinho e ao mesmo tempo acompanhado.

Como é bom sentir toda essa energia positiva! Todos torcendo pelo “herói” que, na melhor das hipóteses, vai chegar horas depois do primeiro colocado. Mas que nem por isso estará menos feliz.

Muito pelo contrário, pois tenho naquele momento o prêmio mais valioso de todos: o amor e o carinho da minha família e dos meus amigos.

O meu muito obrigado aos meus maiores amores, Thaís, mãe, Bianca, Helena, Luana, Calaca e Luís Gustavo. É a melhor família do mundo!

O meu muito obrigado aos meus treinadores Mariana Andrade e Ricardo Brandt, pessoas incríveis e profissionais exemplares!

O meu muito obrigado à professora de natação Juliana Persike, ao nutricionista Braian Cordeiro e ao professor Nivaldo Kammers Júnior.

O meu muito obrigado aos meus companheiros de treinos e Ironman deste ano, Március Vinícius, Valmor Machado, Cláudio Neto, Guilherme Silvy, Gabriel Pires, Jorge e Ronaldo.

O meu muito obrigado a todos os amigos da equipe Time, que acompanharam a prova e torceram por mim. Não vou citar nomes, pois são muitos amigos e vocês sabem quem são!

O meu muito obrigado à Alissa, Fabiano Poletto e equipe, que me permitiram participar de um trabalho incrível que estão fazendo.

O meu muito obrigado e todos os amigos que estavam lá e torceram por mim (incluindo aqueles que também fizeram a prova). Não vou citar nomes, pois são muitos amigos e vocês sabem quem são!

E o meu muito obrigado também aos amigos que não estavam presentes, mas que de alguma forma, nesta ou em outras oportunidades, torcem por mim e me mandam energias positivas.

Foi um dia muito especial, e graças a todos vocês levarei momentos na memória para sempre.

Um beijo grande e um abraço a todos vocês!

Henrique (Paulinho)

2 de mai. de 2013

A lâmpada de Aladim



A história de “Aladim e a lâmpada maravilhosa” fala sobre um jovem, que ao encontrar uma lâmpada e esfregá-la acidentalmente, liberta um gênio que vivia lá dentro. Feliz por estar livre, o gênio concede a Aladim a realização de alguns desejos.

Rimos muito, eu e a Thaís, quando jantávamos em uma pizzaria e nos deparamos com uma lâmpada em cima de nossa mesa.

- Parece a lâmpada do Aladim – eu disse.

Olhamos para as outras mesas para ver se também tinham uma lâmpada, mas a nossa parecia ser exclusiva.

Peguei a lâmpada e esfreguei para ver se saía um gênio. Nada. Lá dentro só tinha azeite mesmo.

Naquele instante, me veio à cabeça o que eu pediria se ao invés de azeite, saísse um gênio da tal lâmpada.

Lembrei-me de uma cena de cinco anos atrás. Na época, eu estava trabalhando em outra cidade, mas sempre com o objetivo de um dia voltar a Florianópolis. Trabalhava demais, num clima bem estressante. Na ocasião, jantava com mais dois engenheiros que trabalhavam comigo, quando surgiu a pergunta: o que você faria se ganhasse na mega sena?

Eu respondi: eu faria triathlon.

Sempre gostei muito de esporte, e nesta época já corria com certa frequência e pedalava aos finais de semana.

Na minha cabeça, o triathlon demandaria um tempo que eu não tinha disponível. Ou seja, ganhando na mega sena, poderia trabalhar menos e praticar esse esporte.

Algum tempo depois eu estava trabalhando em Florianópolis, onde comecei a ter contato com o triathlon.

Percebi que sim, ele demanda tempo, mas que basta nos organizarmos e colocarmos aquilo que gostamos como prioridade.

Trabalho bastante, mas adoro meu trabalho e meus colegas. Tenho uma família maravilhosa. E priorizei algumas coisas na minha vida, arrumando tempo para fazer o que gosto, que é estar com a família e praticar esportes.

Frequentemente brinco com meu amigo Valmor, dizendo que somos ricos, pois moramos em um lugar maravilhoso, onde temos contato direto com a natureza praticando esportes.

Não, não ganhei na mega sena. O que eu tenho hoje é muito mais valioso.

Talvez eu declinasse dos pedidos prometidos pelo gênio. Ou melhor, eu pediria muita saúde para aproveitar toda a minha fortuna (minha família, minha vida e meus amigos).

24 de abr. de 2013

SOBREVIVER NA ÁGUA


Acredito que a natação é a maior dificuldade daqueles que resolvem praticar o triathlon.

Claro que há as exceções, aqueles que já nadavam antes, muitas vezes desde crianças.

Mas a maioria, acredito, começa a praticar o triathlon a partir da corrida, e daí vê a necessidade de aprender a nadar ou, pelo menos, sobreviver na água para depois começar a sua prova.

Já ouvi muitas vezes (e falei) que a natação não era tão importante no triathlon, principalmente quando falamos de provas de longa distância. Talvez porque a natação represente, nesses casos, a menor distância, e onde justamente desenvolvemos a menor velocidade.

No entanto, olhando os resultados do Iroman 70.3 New Orleans, que aconteceu no dia 21 de abril, resolvi fazer algumas análises.

Os resultados dos 10 primeiros colocados da elite foram:



Vamos a algumas das minhas observações e conclusões:

1)    O alemão Andreas Raelert foi, juntamente com o americano Brandon Marsh, o nadador mais rápido. E venceu a prova.

2)    A americana Haley Chura foi a nadadora mais rápida. E venceu a prova.

3)    O campeão Andreas Raelert fez o segundo melhor ciclismo e “apenas” a quarta melhor corrida.

4)    A campeã Haley Chura fez “apenas” o quarto melhor tempo no ciclismo e na corrida.

5)    O ciclista mais rápido da prova, o canadense Trevor Wurtele, ficou com a segunda colocação ao final da prova.

6)    A americana Kristin Andrews fez o melhor ciclismo entre as mulheres, mas ficou com a terceira colocação ao final da prova.

7)    Os melhores corredores nos 21 km foram os americanos Robert Wade (incríveis 1h12min02seg) e Kimberl Schwabenbauer (1h20min57seg), o que lhes rendeu “apenas” a 9ª e 5ª colocação, respectivamente.

Agora algumas outras comparações interessantes, do tipo “e se...”. Vejamos:

1)    A melhor natação da prova masculina (do campeão Andreas Raelert) foi de 23min34seg. Se Trevor Wurtele, que ficou em 2º lugar, tivesse feito esse mesmo tempo, teria ganhado a prova com 2 minutos de vantagem sobre Raelert.

2)    A média dos tempos da natação na prova masculina foi 25min02seg. Se o campeão tivesse feito este tempo (ao invés de 23min34seg), não teria vencido a prova (seria o 2º lugar).

3)    A melhor natação da prova feminina (da campeã Haley Chura) foi de 23min50seg. Se TODAS as dez primeiras colocadas tivessem feito este tempo, Haley seria “apenas” a 3ª colocada. A primeira seria Kristin Andrews (que foi a 3ª), a segunda Kimberl Schwabenbauer (que foi a 5ª). A 4ª seria Amy Marsh (que ficaria apenas 14 segundos atrás de Haley).

4)    A média dos tempos da natação na prova feminina foi 28min32seg. Se a campeã Haley Chura tivesse feito este tempo (ao invés de 23min50seg), não teria vencido a prova. Ficaria “apenas” em 3º lugar, apenas 10 segundos na frente da neozelandesa Joanna Lawn.

Ainda em relação a esta prova, tivemos a participação brilhante de dois grandes triatletas brasileiros na elite: Santiago Ascenço (3º) e Ariane Monticelli (12ª).

Acredito que tudo isso sugira que a natação é sim importante, principalmente quando estamos falando desses grandes atletas de elite, onde existe grande equilíbrio e onde cada detalhe faz a diferença.

Já para os meros mortais, assim como eu, sobreviver na água já está de bom tamanho!

Um grande abraço a todos!

Henrique